Teatro Municipal de São Paulo: Grandes Momentos
Dez anos faz que o padre missionário Ezequiel Ramin derramou seu sangue porque quis ser coerente até o fim com a opção que fez por Jesus Cristo na pessoa dos pobres. Foi no dia 24 de julho de 1985. Fazia pouco mais de um ano que viera para Cacoal como missionário. Não foi preciso muito tempo para perceber os sinais. Era tempo de forte migração. De todos os pontos do Brasil acorria gente para Rondônia, acreditando na propaganda, julgando que aqui seria fácil conseguir terra para si e para seus filhos. Mas a realidade era outra. Terra havia. E muita. Não havia era programação nem vontade de distribuí-la com justiça para os que não tinham. Era até tirada de quem tinha, mas não tinha recursos para se defender, os índios. Multiplicaram-se os sem-terra que, cansados de viver com a sua família debaixo de lona preta, foram buscas o que de direito lhes pertencia. Foi por eles que Ezequiel optou. Anunciou o Evangelho da justiça. Denunciou o pecado da acumulação. Desagradou a muitos. Tornou-se conhecido dos pequenos e amado por eles. Odiado pelos poderosos. E seu sangue encharcou esta terra brasileira. Tinha ido ao encontro dos sem-terra para buscar caminhos que o fizeram calar. Silêncio foi o que não aconteceu. Depois de morto, falou muito mais alto, para todo o Brasil, para o mundo. E continua falando. Os ouvidos dos que deveriam ouvir e se converter ensurdeceram. Continuam concentrando, expulsando, matando, esticando cercas. Mas os fracos estão presentes, crendo nos novos céus e na nova terra que haverão de acontecer... Porque ninguém consegue calar quem dá seu sangue por uma causa justa.
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