Melhor da Gastronomia e do Bem-Viver, O

"Quando surgiu a idéia deste livro -basicamente a de selecionar o que de melhor fora publicado na imprensa brasileira sobre a arte de viver bem, correndo e bebendo -fiz uma preparação para longos períodos de leitura que despertariam apetite desenfreado. Sabia que depois de cada texto lido viria um assalto à geladeira, ou ao armarinho de vinhos (não tenho adega). E no começo foi mesmo assim; acabava de ler urna serie de reportagens sobre os grandes chefs e nada restava a não ser tentar imitá-los no meu fogãozinho e com os poucos talentos de que disponho (não mencionarei os cortes e queimaduras por decoro...). Lia sobre trufas e saía correndo atrás delas, ou num outro dia era a obsessão pelos vinhos do Douro, com os do Porto na frente, alternada com a sede pelos Riojas. Mas depois de um tempo a escrita foi tornando o seu lugar. Cada vez me sentia mais saciado em apenas ler um belo texto sobre algo que não tinha comido, sobre um lugar em que nunca estivera. Percebi que a tarefa era ainda mais agradável e bonita, a de verificar que a boa narrativa (a tese fica para os acadêmicos, graciosamente) substitui em grande parte a experiência direta das coisas. Todos sabemos bem disso. Não é preciso ser explorador de lugares incomuns para vibrar com uma história rocambolesca de Tintim, nem é necessário ser um languido parisiense do fin de siècle para entender Proust, a arte sendo aquela qualidade de destacar da língua confusa do mundo um outro mundo em ordem alfabética, ou pelo menos diferentemente organizado, com prateleiras e rótulos colocados com cuidado, algo corno entrar numa despensa e achar os produtos no escuro, tateando, ou sabê-los ali, sem precisar checar a verdade. (Será? Voarão ovos e tomates sobre essa inocente teoria? Se voarem farei urna fritada com eles...) O que percebi foi que uma boa descrição de um prato vale por uma refeição, que nem um danoninho. Nesse momento comecei a sentir o sublime vinho dos Ramonet, sem jamais tê-lo tomado, ou a mergulhar num pantagruélico jantar no Fasano, estando somente mastigando meu sanduíche de pão com sardinha, em frente a tela do computador. Se comer, beber e viver e ótimo, ler sobre o assunto não fica muito atrás." Luiz Horta


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