Inocência

Até hoje ninguém decifrou o encanto com que Inocência (1872) seduz o mundo: desde o seu lançamento, inúmeras edições esgotadas em português e, já no século XIX, traduções suas publicadas em quase todas as línguas. Além disso, a obra-prima de Taunay ganhou três belas versões cinematográficas, em 1915, 1949 (com Maria Della Costa) e 1983 (estréia de Fernanda Torres no cinema). O seu mote é o idílio trágico entre Cirino, jovem doutor itinerante que pratica a medicina popular, e Inocência, donzela cabocla prometida pelo pai ao brutal Manecão Doca ­ tudo em pleno sertão mato-grossense, que o próprio Taunay chegou a palmilhar. Segundo João Luiz Lafetá, a pregnância do romance nasce da mescla de arquétipos românticos e observação realista, lastreada pelas vivências de Taunay, engenheiro, militar, pintor e literato de formação francesa, capaz de fruir a mansidão do 2º Reinado mas também presenciar a Guerra do Paraguai. Daí resulta o tom medido de um narrador que guarda distância mitigante em face do que narra, como se explicasse o sertão à urbe. Mas o sertão, diria Guimarães Rosa, é o mundo. Já em 1881, Brás Cubas, ao abater uma borboleta preta com um piparote de toalha, filosofa: Também por que diabo não era ela azul? Pois a Papilio Innocentia que o leitor tem em mãos é justamente branca e azul, e relê-la é sempre lê-la pela primeira vez. Vadim Nikitin


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