Tribunal da Impotência, O
Em tempos de tantos feminismos, não deixa de ser instigante dar um mergulho nas mazelas de homens que durante três séculos foram processados por suas mulheres. A causa: o não cumprimento do dever conjugal. Sobre esses homens, levados as barras dos tribunais laicos e religiosos, pesou a acusação de incapacidade para o desempenho do jogo sexual, única justificativa para uniões orientadas pelo dever religioso e social da procriação. Perante os magistrados, a eles cabia a dura tarefa de reverter a acusação de impotência, através de rituais que desvendam brechas pouco confessáveis do intrincado arcabouço das práticas da justiça de Deus e do Rei na França do Antigo Regime. Um dissimulado prazer do "voyeurismo" emana dos procedimentos das severas autoridades responsáveis pelos processos sobre a impotência. O exame de corpos e de comportamentos emerge da escuridão das alcovas e torna-se matéria polêmica expondo acusado e queixosa a curiosidade e ao deboche públicos. Por trás do tom levemente jocoso usado por Darmon para conduzir o leitor pelo complexo universo da justiça, surge o desconforto vivido por pessoas que ousaram investir contra a instituição do casamento usando os meios legais ao seu alcance. Neste livro, os fragmentos da vida íntima de casais unidos até a morte, expõem o dia-a-dia de matrimônios, onde a expressão amor conjugal recobria interesses e conveniências de outra natureza. Paradoxalmente, as mazelas masculinas trazem ate nós mulheres cujo único recurso de fuga a prisão conjugal era a denuncia do não cumprimento do compromisso formal do matrimônio: o sexo orientado para a procriação. Utilizando uma documentação inédita, o autor nos faz percorrer os meandros de casamentos mal sucedidos nos séculos XVI, XVII e XVIII, e algumas incursões suas pelos séculos XIX e XX mostram que sobre esse assunto, as coisas mudaram de plano, mas permaneceram as mesmas.
Stella Bresciani
Margareth Rago
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