Paranóia: Marguerite ou a "Aimée" de Lacan

Paris, hospital de Sainte-Anne, 1931. Em entrevistas informais, um jovem psiquiatra se encontra quase todos os dias, durante um ano e meio, com uma mulher que, por haver ferido com um golpe de faca uma atriz célebre, acaba de ser internada.
Ele se chama Jacques Lacan. De seu encontro com ela, fará o objeto de uma tese que os tornará ambos célebres. Jamais, com efeito, se havia escrito a história de uma mulher reconhecida como louca utilizando-se ao mesmo tempo tanto cuidado, tanta precisão nos detalhes, tanta amplitude de pesquisa e principalmente com uma tal preocupação de singularidade, de literalidade do "caso". Em sua tese, ele será mesmo o editor dos romances escritos por ela no momento mais fecundo de seu delírio, e ainda assim saudados por seu valor literário por Crevel, Dali, Éluard, Bosquet.
Ela, Marguerite Anzieu, soube, no entanto, de maneira sutil não ser exatamente aquela "Aimée" que ele apresentava. Transferida para o hospício de Ville-Évard, ali travou si um combate judicial para ser enfim libertada. Entretanto, ainda não havia terminado com Lacan, nem ele com ela. Assim, interveio muito oportunamente para que seu filho Didier, por cuja vida havia tamanha preocupação na sua loucura, rompesse com este Lacan que, entrementes, tornara-se seu psicanalista.



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