Travessia de Verão
"A maior parte das pessoas que escrevem qualquer coisa hoje em dia deve algo a Capote", escreveu recentemente Davir Carr no jornal The New York Times, numa referência à técnica jornalística de Truman Capote. Esse tipo de recurso, considerado revolucionário nos anos 60, foi empregado depois por autores famosos, como Norman Mailer e Tom Wolfe, que continuaram elevando o jornalismo à categoria de literatura. Mas sua influência e o sucesso de romances como A Sangue Frio e Bonequinha de Luxo ? ambos levados ao cinema ? não impediram que Capote fosse criticado por colegas, esquecido pelos amigos e quase afundado no anonimato até sua morte, em 1984. A redescoberta de sua obra, que culminou com a publicação do inédito Travessia de Verão em outubro de 2005 nos Estados Unidos, recupera o lugar de destaque que, segundo o próprio autor confessava, sempre perseguiu em vida. O romance revela as desventuras e desvarios da doce e inocente Grady McNeil, uma jovem de 17 anos que se vê sozinha num apartamento na Quinta Avenida, em Nova York, depois de seus pais saírem de férias num cruzeiro para a França. Alguns elementos narrativos que celebrizaram o escritor já se encontram presentes neste livro. A protagonista apresenta francas semelhanças com a heroína de Bonequinha de Luxo, Holly Golightly. Ambas são irreverentes, circulam num estrato social elevado e acabam envolvidas em aventuras. Como explica Alan Schwartz ? advogado e beneficiário da obra de Capote ? no posfácio do livro, seu grande amigo chegou a escrever sobre as dificuldades que teve com o manuscrito de Travessia de Verão durante algum tempo antes de finalmente deixá-lo de lado. Segundo Schwartz, existem também alguns indícios de que o escritor desejava que o texto jamais fosse publicado. No entanto, em cartas posteriores, há também indicações de que ele ainda estivesse pensando a respeito. O advogado admite que leu o original de Travessia de Verão com apreensão: ?Não é todo dia que o responsável por um trust ou mesmo um testamenteiro literário se vê na situação de precisar decidir publicar ou não a obra de um importante autor já falecido que, muito provavelmente, não a teria publicado em vida. Truman morreu em 1984. O que ele pensaria hoje? Teria tido distanciamento histórico e tranqüilidade para decidir o que era melhor para o manuscrito? Depois de muito pensar, tornou-se óbvio para mim que, em última análise, o romance precisava falar por si.
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