Paixões

Alguém já disse que podemos mudar de paixões, mas nunca viver sem elas. E muitas vezes, tudo que elas nos deixam, quando acabam, recende a arrependimento e amargura. Apesar disso, quando um dia fazemos o balanço das nossas emoções, achamos que valeu a pena, porque as paixões mais amargas de serem vividas são também as mais doces de serem lembradas. Uma velha tia minha costumava dizer, entre suspiros e sorrisos de saudade: "Como aquele maldito me fez sofrer!" Para se falar de paixões verdadeiras, há que ser bom ficcionista, pois também a realidade precisa de imaginação. E imaginação é o que não falta à Rosa Montero, essa espanhola de pouco mais de 50 anos, que já conhecemos e admiramos pela leitura de A Louca da Casa, publicado pela Ediouro. Agora, em Paixões, ela reuniu um punhado de histórias reais, recriadas com devoção e talento. São pequenos documentários, podemos dizer assim, que nos levam a pecorrer uma gama infindável de emoções, das lágrimas ao terno sorriso, porque não há nada, nenhum sentimento na natureza humana, mais forte do que uma forte paixão. Evita e Juan Perón, Marco Antonio e Cleópatra, Elizabeth Taylor e Richard Burton, John Lennon e Yoko Ono, todos eles, entre muitos, têm suas apaixonadas vidas reveladas brilhantemente por essa hábil pesquisadora do coração humano, que nos conta ainda a paixão de Verlaine por Rimbaud e a de Oscar Wilde por Lord Alfred Douglas. Muitas vezes esse forte sentimento, que abala e transtorna o coração humano, confunde-se com o amor. É fácil perceber a diferença: enquanto o amor abre os nossos olhos, a paixão nos cega. E mesmo assim, vale a pena. (MANOEL CARLOS - março de 2005)



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