Questionário

Sabemos que, como qualquer roteiro, questionários são feitos para nossa orientação. Mas não este de Cadão Volpato. Este desnorteia e desorienta. À primeira vista não descobrimos sua lógica. Qual a conexão entre perguntas e personagens que na maioria dos casos aparecem e desaparecem sem pedir licença, sem se apresentarem? Será que temos nas mãos não 20 perguntas de um questionário, mas 20 questionários com uma única e aleatória pergunta? Que fazer? Abandonamos então o livro? Tarde demais. Somos de saída fisgados pelo frescor que sopra nessas páginas, desde aquele Dezembro de um verão maravilhoso. Lixo e detritos também vêm com o vento, o que nos obriga a fechar os olhos, misturando céu azul com vontade de chorar. Pois se a beleza é comovente e triunfal, há algo de corrompido e de profundamente deslocado nela. E a primeira pergunta, "Como era sua miss?", imediatamente nos atira nesse universo em decomposição com suas carniças, ratazanas e "urubus desajeitados". Impossível não ouvir aqui a terrível e, paradoxalmente, encantadora música de Gottfried Benn (1886-1956). É preciso fixar pela última vez a beleza, antes que desapareça na curva da estrada. É o que faz Volpato. Não sem antes datar à escala da história periférica, passando por nossos Anos de Chumbo, com sua tortura e suas "tigradas", o que parece ser herança da contemporaneidade: a efemeridade e fragmentação de um mundo de relações ameaçadas ou rompidas.
Nos textos isso é visto pela lente estreita e comovedora dos seres moços. Muitos jovens e muitas crianças, ou pessoas que recordam juventude ou infância, erram pelas páginas, em vaga melancolia. Há caminhos cruzados, perguntas sem respostas, ou respostas engasgadas. Aquele céu preto da xícara de café, onde Louise Vieira lê o seu destino.


Clique aqui para comprar este produto no Submarino.com.br Conheça outros produtos indicados pelo Planeta News