Cânone Imperial, O
A literatura é fundamental para a formação da mentalidade do brasileiro. O presente ensaio volta-se para o período em que se inventa essa estrutura inconsciente. Ele é uma continuação de O cânone colonial e será seguido por O cânone republicano. O critério de seleção de textos escolares não tem por base a qualidade artística, mas a conveniência ideológica. Aqui se defende a literatura como arte e se supera o temor reverencial ante autores consagrados. Eles deixam de ser tabu, tabuada a ser recitada. Nas antologias, historiografias e manuais correntes, os autores são apresentados como se fossem puro talento e como se todo talento fizesse parte do cânone. Isso atribui à história social um sentido que ela em si e por si não tem, impondo-se uma imagem estreita do país e um modelo estrito de brasilidade. Em nome da crítica, deixa-se então de ser crítico, impede-se o questionamento e suspende-se o raciocínio, impondo uma política de assimilação que elimina as diferenças e empobrece o espectro cultural no território. Até hoje não se ousou formular crítica tão radical e abrangente quanto a que aqui se faz em relação ao cânone literário e à exegese canonizada, normativamente impostos como se fossem inquestionáveis. Não se trata, porém, de consagrar outros autores como se houvesse uma minoria destinada a ser a salvação nacional. Desmantela-se o sofisma de o texto ser consagrado como canônico par ser artístico. Questiona-se a historiografia, que pressupõe que os "fatos da história literária" geram a sua narração, para mostrar como se fabricam "fatos" a partir de modelos externos, para sabotar seu espírito crítico. Sobre a estreita base do cânone vigente não se poderá construir um edifício literário maior. Toma-se necessário desconstruir o que se mostra incapaz de sustentar o desenvolvimento. Sobre um terreno mais sólido, uma nova literatura poderá formar-se. E um novo país.
Notícias