Sobre a Amizade

Escrito em 44 a.C., Sobre a Amizade é um pequeno tratado no qual Cícero diz estar reproduzindo uma conversa entre Caio Fânio, Quinto Múcio Cévola e Caio Lélio, em que este último, entristecido com o falecimento de seu amigo Cipião, fala sobre a amizade. O diálogo só existe, efetivamente, em poucas passagens do texto, prevalecendo, na verdade, uma envolvente exposição de teses sobre o tema.
Suas considerações iniciais versam sobre a imortalidade da alma e, nesse sentido, defende a idéia de que a amizade - que une os justos e virtuosos - sobrepuja a própria morte, uma vez que ela tem a capacidade de perpetuar a memória daqueles que se foram.
Embora escrito há mais de dois mil anos, este livro permanece incrivelmente atual, exatamente por tratar das relações de amizade que estabelecemos tanto do ponto de vista mais íntimo e pessoal quanto nas relações sociais. Cícero afirma que a verdadeira amizade fundamenta-se na virtude e nos alerta para que fiquemos atentos em relação aos bajuladores, que apenas vêem na amizade uma forma de atingir objetivos utilitários e, freqüentemente, ilícitos. Cícero mostra que a corrupção na administração pública está fortemente relacionada ao estabelecimento de falsas amizades.
Um ponto central de sua exposição é o estreito vínculo que deve haver entre amizade e virtude, entendida esta última como inerente à própria natureza. A virtude, desse modo, é o eixo que Cícero utiliza para questionar a tese do utilitarismo da amizade - no sentido de que esta nasceria e sobreviveria com o atendimento de conveniências mútuas - e, igualmente, sobre a questão do prazer. Colocando-se ao lado dos estóicos romanos, Cícero apresenta uma crítica corrosiva de uma visão supostamente "epicurista", disseminada popularmente. Vale assinalar que, nessa época, gregos que se autodenominavam filósofos - e que, efetivamente, caracterizavam-se mais como charlatães -, vinham a Roma oferecer à elite uma filosofia do prazer, que era, na verdade, uma justificativa para o desbragamento moral que grassava na República Romana, já em processo de decadência.





Editora: Nova Alexandria



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